domingo, 2 de dezembro de 2012

Agora Vamos Falar de Coisa Séria - Michel Gherman e Marcos Gorinstein




Cena número 1: Um judeu religioso, de Kipá e Tzitzit , visivelmente fora de si, corre com o braço estendido e o punho fechado em direção a um rapaz com pinta de árabe que percebe sua aproximação e continua andando calmamente. Um fosso os separa, o judeu religioso continua se aproximando, o árabe continua seu caminho, quando o judeu chega muito próximo ao fosso ele berra, com toda força que um ser humano alterado pode ter:

“Islam nós gostamos de você!!!!!!!!!!!”

Não se trata aqui da conversão explícita de um judeu religioso ao Islamismo, mas sim a comemoração entusiasmada de um torcedor do Hapoel Katamon quando o autor de um dos gols na vitória do Hapoel contra  Macabi Sharaim.

Mais do que ir a um jogo de futebol, ir a um jogo do Hapoel Katamon Yerushalaim é uma experiência inesquecível. Hapoel (na tradução para o português, proletário) é o time rubro-negro da cidade. Importante notar: O Katamon é rubro negro, mas é claramente mais rubro do que negro. E faz questão absoluta de mostrar isso. No seu símbolo, a foice e o martelo!


Ao chegarmos ao estádio, nos deparamos com bandeiras rubro-negras e uma bandeira de cuba com a cara do Che Guevara. Por um momento pensamos estar no meio da Torcida Jovem do Flamengo. Mas a doce saudade do Maraca não durou muito. Nós, torcedores do Hapoel, não somos tão grandes em número quanto nós flamenguistas.


 A Estrela Vermelha - Hapoel Jerusalém



 Mas temos qualidade. Além da bandeira de Cuba, o Hapoel também participa da Liga Anti-fascista e escreve em suas faixas em árabe e hebraico que somos contra o racismo. Temos como principal rival o Beitar Jerusalem, time da direita racista. E mais do que tudo, somos o único clube em Israel que foi fundado por torcedores. Nascido em 2005, o Hapoel Katamon é dirigido e sustentado por torcedores. Faz projetos sociais em regiões pobres da cidade, principalmente com imigrantes etíopes, que moram em Katamon, no bairro do Clube.



Hapoel Contra o Racismo (em hebraico e árabe - bandeira ao lado)




Em Jerusalém o futebol não é o ópio do povo. Também aqui fazemos política e gritamos gol, afinal, como diria Nelson Rodrigues: “Futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”.

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