Cena número 1: Um judeu
religioso, de Kipá e Tzitzit , visivelmente fora de si, corre com o braço
estendido e o punho fechado em direção a um rapaz com pinta de árabe que
percebe sua aproximação e continua andando calmamente. Um fosso os separa, o
judeu religioso continua se aproximando, o árabe continua seu caminho, quando o
judeu chega muito próximo ao fosso ele berra, com toda força que um ser humano
alterado pode ter:
“Islam nós gostamos de
você!!!!!!!!!!!”
Não se trata aqui da conversão
explícita de um judeu religioso ao Islamismo, mas sim a comemoração entusiasmada
de um torcedor do Hapoel Katamon quando o autor de um dos gols na vitória do
Hapoel contra Macabi Sharaim.
Mais do que ir a um jogo de
futebol, ir a um jogo do Hapoel Katamon Yerushalaim é uma experiência
inesquecível. Hapoel (na tradução para o português, proletário) é o time
rubro-negro da cidade. Importante notar: O Katamon é rubro negro, mas é
claramente mais rubro do que negro. E faz questão absoluta de mostrar isso. No seu símbolo, a foice e o martelo!
Ao chegarmos ao estádio, nos deparamos com
bandeiras rubro-negras e uma bandeira de cuba com a cara do Che Guevara. Por um
momento pensamos estar no meio da Torcida Jovem do Flamengo. Mas a doce saudade
do Maraca não durou muito. Nós, torcedores do Hapoel, não somos tão grandes em
número quanto nós flamenguistas.
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A Estrela Vermelha - Hapoel Jerusalém |
Mas temos qualidade. Além da
bandeira de Cuba, o Hapoel também participa da Liga Anti-fascista e escreve em
suas faixas em árabe e hebraico que somos contra o racismo. Temos como
principal rival o Beitar Jerusalem, time da direita racista. E mais do que
tudo, somos o único clube em Israel que foi fundado por torcedores. Nascido em
2005, o Hapoel Katamon é dirigido e sustentado por torcedores. Faz projetos
sociais em regiões pobres da cidade, principalmente com imigrantes etíopes, que
moram em Katamon, no bairro do Clube.
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Hapoel Contra o Racismo (em hebraico e árabe - bandeira ao lado) |
Em Jerusalém o futebol não é o
ópio do povo. Também aqui fazemos política e gritamos gol, afinal, como diria
Nelson Rodrigues: “Futebol é a coisa mais importante dentre as menos
importantes”.
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