O canal 1 é o canal público de
Israel. Ele é (ou ainda é), a despeito
de sua estética dos anos 70, o canal com mais profundidade em suas análises
políticas. A ausência de propagandas e sua consequente independência permitem
ao canal 1 mais tempo para entrevistas e perspectivas mais sofisticadas em seus
programas. O canal 1 tem analistas com opiniões diversas e oferece mais possibilidades
de opiniões políticas para o telespectador em Israel, apesar de sua estética
retrô e seus constantes problemas técnicos (além de volta e meia o telefone do
apresentador tocar no ar).
Pois foi justamente do canal 1 que vi a mais surpreendente e esclarecedora entrevista
sobre as eleições internas doPartido Likud.
Ronie Bar On, do Kadima, era
entrevistado pela famosa jornalista Geula Even. Bar On é o típico político
oportunista. Membro do Likud por anos, protagonista de alguns escândalos de
nepotismo, ele saiu do Partido e se
ligou ao Kadima de Sharon, quando isso lhe pareceu confortável em termos
eleitoreiros. Nesta entrevista Bar On resumiu com clareza impressionante os
riscos do Likud em sua versão 2012 para o Estado e para a sociedade Israelense, em suas relações internas e externas.
As eleições internas do Likud são diretas, os militantes votam em listas
construídas de acordo com suas preferencias. Na entrevista Bar On falava sobre
as eleições internas do Partido no poder, ele afirmou:
-Há possibilidade de que candidatos de centro no Likud, fiquem de fora da
lista final. Tenho medo que Dan Meridor e Beni Begin fiquem muito mal colocados, ou mesmo de fora...
Neste momento ele foi interrompido por Geula:
- Mas digamos que Beni Begin não pode
ser considerado exatamente um político da esquerda, certo?
Ao que Bar On respondeu:
- Pois bem, estamos falando de outros candidatos que são um risco à independência
do poder judiciário, à igualdade entre cidadãos árabes e judeus, à democracia...
neste caso até Beni Begin está à esquerda.
Pois bem, este foi o quadro final.
Michael Feiglin, colono da Cisjordânia, típico militante da extrema direita neo
sionista[1] está entre os 15
primeiro colocados. Begin, não.
Feiglin é o símbolo do Likud hoje. Nos últimos anos ele tem inchado o
partido com eleitores da extrema
direita. Após anos de tentativa, com a aproximação entre o Likud e o Israel
Beiteinu (do Liberman), a extrema
direita ganha espaço e hegemoniza o partido. Bibi se esforça para manter
o poder, se aproxima da extrema direita e o Likud se transfora em um partido de
extrema direita, com candidatos que não tem interesse algum em manter a
independência do judiciário e pretendem desconstruir
a democracia em Israel. Até Bar On percebeu.
Bibi chocou o ovo da serpente, há um processo de fascistização que ao final
vai derrotá-lo no próprio partido... vamos todos ser picados pela serpente da
extrema direita, até ele.
[1] Uri Ram, The Future of the Past in Israel - A Sociology of
Knowledge Approach,
in Benny Morris, Making Israel, the University of
Michigan Press, 2007.
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