quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Os Espólios da Guerra e a Preparação para as Próximas Batalhas - Marcos Gorinstein



Desde que Israel e Hamas acordaram com o cessar fogo intermediado pelo Egito, começaram as discussões para ver quem foram os vencedores dessa guerra.

No início eu pensava que não poderíamos encontrar vencedores, afinal de contas, mais de 150 mortos, centenas de desabrigados, pessoas que tiveram que sair de suas casas por uma semana em Israel e em Gaza.

Mas mesmo assim a disputa pela vitória era acirrada. Boa parte da mídia israelense tentava vender a idéia de que o sucesso demonstrado pelo sistema de defesa chamado Domo de Ferro (Kipat Barzel), que bloqueou centenas de misseis do Hamas que cairiam em cidades e seus arredores, e a inteligência de Israel, que além de matar o “General” do Hamas, Ahmed Zaberi, teria destruído arsenais de mísseis do grupo fundamentalista islâmico.

Em Gaza e nos Territórios Ocupados da Cisjordânia a comemoração foi grande. Aqui em Jerusalém Oriental eu pude ouvir fogos e buzinas de carros, logo após o anúncio do cessar-fogo às nove da noite. Para eles que comemoravam a vitória era clara. Obrigaram o governo israelense a um cessar fogo no dia em que houve um ataque terrorista a um ônibus em Tel Aviv, depois de jogarem mísseis em Tel Aviv e Jerusalém, obrigando os políticos a irem para abrigos.

E aí? Quem venceu?

HAMAS x Bibi – Liberman

Sem dúvida de quem se saiu vitorioso entre o governo de Israel e o Hamas foi o grupo fundamentalista islâmico. Jogaram mísseis aonde quiseram, jogaram parte da opinião pública mundial (que geralmente já é anti-Israel com posturas, muitas vezes, irresponsáveis) contra Israel e conseguiu concessões no que diz respeito ao embargo imposto pelo governo de Bibi.

Já o governo anda meio perdido nesse momento. Eleições por vir, dificuldades econômicas, a primavera israelense (movimento iniciado há um ano e meio que levou milhares de pessoas às ruas exigindo justiça social) ainda não acabou e pode dar um pequeno suspiro nessas eleições. Além disso, o discurso governista de que não podia sentar para discutir paz, vai por água a baixo novamente. Bibi negociou com o Hamas para soltar o prisioneiro israelense, Gilad Shalit, e discutiu novamente o cessar fogo. Por que então se recusa veementemente a conversar com o Hamas sobre paz? (talvez porque ambos não queiram isso!!!!!!)

O governo de Israel e o Hamas se falam por intermédio de Bombas

FATAH e Esquerda Israelense

O Fatah também foi um grande derrotado nessa guerra. A estratégia do Hamas de voltar ao centro das atenções na Palestina deu certo. Passaram a ser novamente os interlocutores com Israel, principalmente depois que o governo Israelense resolveram dizer que não tem parceiros para a paz do lado palestino.

Menos de um mês antes da ida de Abu Mazen, presidente da OLP, à ONU pedindo o reconhecimento do Estado Palestino, o Hamas necessita da guerra para poder aparecer no cenário e Israel dá ao Hamas o que ele pede. Tenta tirar de cena um possível parceiro nas negociações e fortalece um movimento terrorista.
Como disse Mazen após o anúncio de cessar fogo, Israel está mostrando que a única forma de resistência possível para se conseguir alguma coisa é através de mísseis e bombas.

A esquerda Israelense sempre fica em uma situação complicada em épocas de guerra. Por mais que sejam contra a guerra, precisam dar uma resposta imediata aos mísseis que caem na casa de cidadãos israelenses. Contudo, mesmo assim, tentam mostrar que a guerra não resolve nada, como também não resolve nada o cessar fogo. O que resolve é à volta às negociações e a paz.

A Volta por Cima dos Setores Progressistas

Amanhã, dia 29 de novembro, será votada na ONU a admissão da Palestina como país membro, sem direito a voto. Basicamente, isso representa que os palestinos terão o seu Estado reconhecido e que Israel comete, oficialmente, um crime contra outro país soberano. Isso pode causar um enorme problema político, pois líderes israelenses podem ser acusados de crimes de guerra e serem processados no Tribunal Internacional de Haia.

A vitória Palestina é certa.

Curioso é que os palestinos terão seu Estado reconhecido pelo mundo exatamente 65 anos após a Assembléia da ONU que votou pela Partilha da Palestina em 29 de novembro de 1947. Foi uma data escolhida por Abu Mazen, esperamos que dessa vez eles também aceitem a decisão da ONU.

Já a esquerda Israelense deu sinais importantes ontem. O Meretz e o Hadash, partidos à esquerda dentro do cenário político Israelense deram total apoio à ida de Mazen à ONU. O Hadash é um partido misto, composto por árabes e israelenses, não sionistae o Meretz, sionista. Ambos defendem dois Estados para dois povos.

Porém, o mais importante nisso tudo (sem contar a criação do Estado Palestino!!!!!) é a demonstração de que Fatah, Meretz e HAdash estão dispostos a conversar. Aceitam um ao outro e podem conseguir chegar a soluções para o conflito caso sejam fortalecidos pelas populações do seus países.
Temos que transformar a o discurso da vitória do Hamas (através de mísseis) e do governo Bibi (de que a inteligência de Israel e a defesa do país são ótimas) em derrotas e dar, mais uma vez, chance à paz. Fortalecer o Fatah e a esquerda israelense é o que todos que não querem mais derramamento de sangue devem fazer.

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