Desde que Israel e Hamas
acordaram com o cessar fogo intermediado pelo Egito, começaram as discussões
para ver quem foram os vencedores dessa guerra.
No início eu pensava que não
poderíamos encontrar vencedores, afinal de contas, mais de 150 mortos, centenas
de desabrigados, pessoas que tiveram que sair de suas casas por uma semana em
Israel e em Gaza.
Mas mesmo assim a disputa pela
vitória era acirrada. Boa parte da mídia israelense tentava vender a idéia de
que o sucesso demonstrado pelo sistema de defesa chamado Domo de Ferro (Kipat
Barzel), que bloqueou centenas de misseis do Hamas que cairiam em cidades e
seus arredores, e a inteligência de Israel, que além de matar o “General” do
Hamas, Ahmed Zaberi, teria destruído arsenais de mísseis do grupo
fundamentalista islâmico.
Em Gaza e nos Territórios
Ocupados da Cisjordânia a comemoração foi grande. Aqui em Jerusalém Oriental eu
pude ouvir fogos e buzinas de carros, logo após o anúncio do cessar-fogo às
nove da noite. Para eles que comemoravam a vitória era clara. Obrigaram o
governo israelense a um cessar fogo no dia em que houve um ataque terrorista a
um ônibus em Tel Aviv, depois de jogarem mísseis em Tel Aviv e Jerusalém,
obrigando os políticos a irem para abrigos.
E aí? Quem venceu?
HAMAS x Bibi – Liberman
Sem dúvida de quem se saiu
vitorioso entre o governo de Israel e o Hamas foi o grupo fundamentalista
islâmico. Jogaram mísseis aonde quiseram, jogaram parte da opinião pública
mundial (que geralmente já é anti-Israel com posturas, muitas vezes,
irresponsáveis) contra Israel e conseguiu concessões no que diz respeito ao
embargo imposto pelo governo de Bibi.
Já o governo anda meio perdido
nesse momento. Eleições por vir, dificuldades econômicas, a primavera
israelense (movimento iniciado há um ano e meio que levou milhares de pessoas às
ruas exigindo justiça social) ainda não acabou e pode dar um pequeno suspiro
nessas eleições. Além disso, o discurso governista de que não podia sentar para
discutir paz, vai por água a baixo novamente. Bibi negociou com o Hamas para
soltar o prisioneiro israelense, Gilad Shalit, e discutiu novamente o cessar
fogo. Por que então se recusa veementemente a conversar com o Hamas sobre paz?
(talvez porque ambos não queiram isso!!!!!!)
O governo de Israel e o Hamas se
falam por intermédio de Bombas
FATAH e Esquerda Israelense
O Fatah também foi um grande
derrotado nessa guerra. A estratégia do Hamas de voltar ao centro das atenções
na Palestina deu certo. Passaram a ser novamente os interlocutores com Israel,
principalmente depois que o governo Israelense resolveram dizer que não tem
parceiros para a paz do lado palestino.
Menos de um mês antes da ida de
Abu Mazen, presidente da OLP, à ONU pedindo o reconhecimento do Estado
Palestino, o Hamas necessita da guerra para poder aparecer no cenário e Israel
dá ao Hamas o que ele pede. Tenta tirar de cena um possível parceiro nas
negociações e fortalece um movimento terrorista.
Como disse Mazen após o anúncio
de cessar fogo, Israel está mostrando que a única forma de resistência possível
para se conseguir alguma coisa é através de mísseis e bombas.
A esquerda Israelense sempre fica
em uma situação complicada em épocas de guerra. Por mais que sejam contra a
guerra, precisam dar uma resposta imediata aos mísseis que caem na casa de
cidadãos israelenses. Contudo, mesmo assim, tentam mostrar que a guerra não
resolve nada, como também não resolve nada o cessar fogo. O que resolve é à
volta às negociações e a paz.
A Volta por Cima dos Setores
Progressistas
Amanhã, dia 29 de novembro, será
votada na ONU a admissão da Palestina como país membro, sem direito a voto.
Basicamente, isso representa que os palestinos terão o seu Estado reconhecido e
que Israel comete, oficialmente, um crime contra outro país soberano. Isso pode
causar um enorme problema político, pois líderes israelenses podem ser acusados
de crimes de guerra e serem processados no Tribunal Internacional de Haia.
A vitória Palestina é certa.
Curioso é que os palestinos terão
seu Estado reconhecido pelo mundo exatamente 65 anos após a Assembléia da ONU
que votou pela Partilha da Palestina em 29 de novembro de 1947. Foi uma data
escolhida por Abu Mazen, esperamos que dessa vez eles também aceitem a decisão
da ONU.
Já a esquerda Israelense deu
sinais importantes ontem. O Meretz e o Hadash, partidos à esquerda dentro do
cenário político Israelense deram total apoio à ida de Mazen à ONU. O Hadash é
um partido misto, composto por árabes e israelenses, não sionistae o Meretz,
sionista. Ambos defendem dois Estados para dois povos.
Porém, o mais importante nisso
tudo (sem contar a criação do Estado Palestino!!!!!) é a demonstração de que
Fatah, Meretz e HAdash estão dispostos a conversar. Aceitam um ao outro e podem
conseguir chegar a soluções para o conflito caso sejam fortalecidos pelas
populações do seus países.
Temos que transformar a o
discurso da vitória do Hamas (através de mísseis) e do governo Bibi (de que a
inteligência de Israel e a defesa do país são ótimas) em derrotas e dar, mais
uma vez, chance à paz. Fortalecer o Fatah e a esquerda israelense é o que todos
que não querem mais derramamento de sangue devem fazer.
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