Este
final de semana pude finalmente ver a entrevista do líder do Hamas, Khaled Meshal.,
concedida a repórter da CNN, Christhiane Amanpour.
Apesar de estar com aparência tranquila e um
discurso mais afinado a perspectivas liberais, a narrativa de Meshal continuava
profundamente dura e excludente, com relação ao futuro da região e as relações
com o vizinho Estado de Isrel.
O
que impressiona no discurso de lideranças do Hamas, principalmente depois da
última operação em Gaza, é a repetida forma de excluir e não perceber o outro
lado como legítimo. A “este lado” não cabem narrativas alternativas,
possibilidades de história e reconhecimento.
Em algum momento na entrevista, houve um pronunciamento pretensamente
avançado por parte de Meshal que afirmou aceitar a existência de um Estado
Palestino ao lado de outra entidade estrangeira, segundo uma série de
condições. Não vou aqui me referir a tais condições (que virtualmente tornam
inviável qualquer acordo com Israel), queria sim apontar para uma pergunta que
Amanpour fez reagindo a tal informação:
“Então
você aceitaria o direito de existência de Israel?”
Seguida
da a resposta:
“Não.
Eu aceito um Estado de 1967. Eles ocuparam minhas terras, eu exijo
reconhecimento, não eles!”
O
debate de Meshal passa a ideia de que há no conflito dois lados, fechados a
quaisquer infiltrações e onde vítimas e culpados estão definidos desde sempre e debate é sempre nacional e coletivo, impossibilitando divisões e rachas, de lado a
lado.
Não tenho dúvida do quão confortável é esta perspectiva.
Tal visão chapada coloca Hamas, e nesta dimensão, os Palestinos, contra Israel,
enquanto Israel passa a ficar contra o
Hamas (que passam a ser os Palestinos) e pronto. Em tempos de rápidas
informações e rápidos posicionamentos,
estas dinâmicas são importantes para saber de que lado devo estar,
confortavelmente e sem necessidade de grades investimentos em reflexão e
análise.
Esta
visão estritamente nacional e excludente é uma tragédia. Por um lado é uma
tragédia política que faz com que pessoas desinteressadas em maiores
compromissos reflexivos decidam, na boca
do caixa, em que cavalo devem apostar nesta fast food ideológica. Por por outro
lado, é uma tragédia porque abrem-se espaços para que propostas excludentes, reacionárias
e simplificadoras ganhem legitimidade e passem a ameaçar de fato estruturas democráticas.
Alguns
destes sinais evidentes são as entrevistas dadas em canais israelenses, que
propiciavam encontros entre deputados representantes da população árabe em
Israel e membros do parlamento representando os partidos de direita . Em tais
entrevistas a lógica de Meshal, exclusivamente nacional, encontrava guarita e ganhava
fôlego.
Como
exemplo, cito o encontro (imperdível para qualquer reacionário experiente) entre
o deputado árabe, do Partido Pan-Árabe Ta´al, Ahmed Tibi, e, Gila Gamliel,
deputada do direitista Likud. Enquanto ele gritava que as vítimas do exército
de Israel em Gaza eram mais vítimas do que as vítimas israelenses deste lado da
fronteira, Gamliel esbravejava que ele não devia ter cidadania pois apoia o inimigo.
Amigos
deputados, Khaled Meshal ( e outros tantos ideólogos do nacionalismo excludente,
de triste memória) ficariam orgulhosos de vocês. Negar a dor e a história do
outro é um excelente remédio para o fortalecimento da exclusão e do racismo. É hoje
e sempre foi.
Assim, a guerra se foi, mas é impossível perceber que deixou muitos cacos para serem catados.
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