Sei que o tempo em que ficamos sem
escrever para o blog muitas coisas aconteceram no mundo e em Israel. Porém, A
Ocupação, infelizmente, continua, não temos acordo de paz, enfim, muita coisa
continua igual ou pior. Mas há algo novo. Tivemos eleições.
O bloco partidário do então
primeiro ministro, Bibi Netanyahu, se manteve com a maioria das cadeiras, 31,
11 a mais que o segundo colocado, o partido debutante, Yesh Atid, do também
debutante na política, o ex-apresentador de TV e jornalista, Yair Lapid. O partido do
Bibi, Likud, se uniu ao partido do então ministro das Relações Exteriores,
Avigdor Liberman, que semanas antes das eleições se afastou do cenário político
por ser acusado de corrupção e aguarda julgamento em silêncio.
Somente quase dois meses depois
das eleições que Bibi conseguiu formar a coalizão para o seu novo governo. Tem
como seus principais o Yesh Atid, de Yair Lapid, e outro partido de direita HaBait
HaYehudi, partido religioso “light” que tem Bennet como liderança. Outro aliado
é o partido HaTnuah, de Tzipi Livni, que no passado ocupou o cargo de
primeira-ministra e tinha ambições de ficar com o cargo de ministra das Relações
Exteriores para poder dar continuidade ao seu plano de paz com os Palestinos. O
pouco número de cadeiras conseguido pelo seu partido não permitiu que ela
ficasse com esse cargo, mas ficou com o de Ministra da Justiça, também de
grande importância.
Dia 18 de março foi o dia em que
o novo Parlamento tomou posse, dois dias antes de outro acontecimento
importante para o país e para a região: a visita de três dias do presidente
americano, Barack Obama.
Obama vem à Israel pela primeira
vez desde que se tornou presidente. Parece que o Oriente Médio se mantém na
agenda política do americano. O ganhador do Prêmio Nobel da Paz (mesmo antes de
assumir o primeiro mandato como presidente) vem à Israel para falar de paz
e.....guerra.
O país estava em euforia com a
visita de Obama e tudo parou quando ele aterrissou. O “maior amigo de Israel”
estava chegando. Logo no aeroporto foi recebido de braços abertos pelo
presidente Shimon Peres e por Bibi. Em clima descontraído e se mostrando bem à
vontade, Obama foi conduzido por Bibi até uma estação de controle do chamado
“Domo de Ferro” equipamento militar de tecnologia israelense e financiamento
americano que interceptou mais de 80% dos mísseis atirados pelo Hamas na guerra
de novembro que se cairiam em cidades Israelenses, inclusive Tel Aviv.
Obama também foi aos Territórios
Ocupados da Palestina e se encontrou com Abu Mazen (Mahmoud Abbas), presidente
Palestino e Saeb Erekat, negociador Palestino. Mas o ponto mais interessante da
visita de Obama foi o discurso proferido para centenas de estudantes no centro
de convenções em Jerusalém. Obama falou o que todos queriam ouvir. Incendiou a plateia
e deixou o país com o seu ar de herói e salvador mais fortalecido ainda.
Criticou a Ocupação, defendeu o
direito do povo Palestino de viver livremente em seu território, sem repressão
e opressão, falou que a violência dos colonos contra a população Palestina não
pode ficar impune, disse que a construção nos Territórios é um impasse para paz
e que sem a política de Dois Estados para Dois Povos, o Estado judaico está em
risco. Contudo, criticou a ida de Abu Mazen à ONU para pedir o reconhecimento
da Palestina.
Por outro lado, disse que os EUA
não vão permitir um Iran nuclear, reafirmou que o grupo terrorista Hezbollah é
uma ameaça e que não pode receber armas químicas do governo Sírio, disse que o
presidente sírio, Bashar Al-Assad deve deixar o poder e, em hebraico disse:
“Atem Ló Levad” , ou seja, vocês não estão sozinhos.
O presidente americano deixou o
país na última sexta-feira, em direção à Jordânia, depois de visitar a Igreja
da Natividade, em Belém, onde Jesus nasceu.
Obama foi muito mais avançado que
o governo Israelense, soube como criticar a Ocupação mexendo nos sentimentos
dos Israelenses, defendeu a criação do Estado Palestino independente, mas
sempre reforçou os laços entre Israel e Estados Unidos.
Logo após a saída de Obama, outra
surpresa: Bibi, depois de quase 3 anos, pede desculpas formalmente ao governo
Turco pelas mortes ocorridas no incidente da Flotilha enviada à Gaza que saiu
daquele país. O impasse que impedia o retorno de seus embaixadores e a volta
das relações diplomáticas entre os dois países foi logo quebrado (a pedido de
Obama, é claro). Para além disso, Israel e Turquia voltam a ter acordos
comerciais-militares.
Só cabe lembrar que a Turquia faz
fronteira com a Síria e com o Iran e se torna um potencial aliado Israelense em
caso de guerras (americano já era).
Assim, a visita do presidente
americano foi até maior que a própria formação da coalizão governamental que
garantiu a Bibi o seu terceiro mandato. Ele foi “Obama” ao falar de paz (nada
muito diferente de que qualquer outro presidente americano já tenha falado), “O
Bamba” ao colocar o governo de Israel “no bolso” e “Osama” ao deixar as portas
abertas para mais uma guerra no Oriente Médio.