Algumas pessoas se incomodam com
pretensas comparações feitas entre a extrema direita israelense e o
Fundamentalismo Islâmico Palestino, representado pelo Hamas. Acredito que este
incômodo é justo.
As últimas manifestações em Gaza,
mórbidas e assustadoras, que tinham mísseis como decoração e gritos que
apoiavam a libertação das terras palestinas das mãos dos infiéis (tremei Judeus
e Cristãos!) e conclamava (como o discurso de Khaled Meshal) ao assassinato de
“sionistas” (não se enganem, está claro aqui que ele se refere a todos os
judeus que aqui estão!), mostra que a
direita, a extrema direita israelense,
está (apesar de tudo) anos luz da capacidade excludente, preconceituosa
e do potencial destrutivo representado pelo fundamentalismo do Hamas.
O que me incomoda, porém, é o
entusiasmo quase orgasmático, do Primeiro Ministro israelense que reage a este
terrível discurso, afirmando que:
“Não viu reação de Abbas ao discurso do Hamas
em Gaza.”
Aqui podemos ver um ponto de
encontro entre Hamas e a extrema direita israelense. Aqui há não uma
semelhança, não uma comparação, mas o uso mútuo, um interesse comum tanto do
Hamas em relação a Israel, quanto do
atual governo israelense em relação ao
Hamas.
Na frase de Bibi há sinais
digitais inconfundíveis de conservadorismo e de elementos autoritários não menos
preocupantes. Isto pode se notar quando o primeiro ministro ao afirmar, vez por
vez, que não há diferença entre o governo Palestino de Gaza e da Cisjordânia, exorta
sentimentos tribais e excludentes que
acabam sendo criados por essa “profecia que se auto concretiza”.
Importante afirmar, porém, que não foi Bibi
que criou esta dinâmica, o ex- primeiro ministro Sharon agiu de forma
semelhante algumas vezes. Um dos exemplos pode ser visto no saída unilateral de
Gaza, por exemplo . Aqui, depois de anos de negociações com a Autoridade
Nacional Palestina, com todas as dificuldades, houve mudanças. Sharon se retira
de Gaza, governada pelo Hamas, com quem nunca houve acordo algum (mas não são
todos iguais?).
Afinal, se “Não há com quem
falar”, se “não há parceiro do outro lado”, então “eles são todos iguais”.
Interessante é que discursos como
esses do Hamas, criam sentimentos semelhantes de outra parte. Ao tratarem todos
nós por “sionistas a serem assassinados” e “infiéis”, o fundamentalismo
islâmico cria no seio da sociedade israelense também perspectivas tribais e
particularistas, que dão poder a grupos conservadores, de direita, autoritários
e particularistas da sociedade israelense.
Aqui há um diálogo sim entre
Hamas e a extrema direita israelense, um diálogo de exclusão, de tribalização
do Outro, de essencialização de grupos inteiros, que impossibilita qualquer
avanço no sentido de um reconhecimento mútuo, convivência e futuro acordo.
O pior, grupos pseudo
“progressistas” acreditam e caem nesta charada. Ao essencializarem discursos ,
estes grupos ( que se definem como de esquerda ) contribuem para o
aumento do conflito, a tribalização de posições, o fortalecimento de visões
preconceituosa e as possibilidades de Guerra. A aliança da esquerda com os
Hamas é tão ridícula quanto ela seria se fosse com a direita israelense. Já
tendo consequências trágicas.
Afinal, discursos
políticos trágicos que criam decisões políticas que são tão trágicas quanto.
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