quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Jacas e mangas são bem diferentes, mas em noites chuvosas, ambas caem em nossas cabeças - Michel Gherman



Algumas pessoas se incomodam com pretensas comparações feitas entre a extrema direita israelense e o Fundamentalismo Islâmico Palestino, representado pelo Hamas. Acredito que este incômodo é justo.

As últimas manifestações em Gaza, mórbidas e assustadoras, que tinham mísseis como decoração e gritos que apoiavam a libertação das terras palestinas das mãos dos infiéis (tremei Judeus e Cristãos!) e conclamava (como o discurso de Khaled Meshal) ao assassinato de “sionistas” (não se enganem, está claro aqui que ele se refere a todos os judeus que aqui estão!),  mostra que a direita, a extrema direita israelense,  está (apesar de tudo) anos luz da capacidade excludente, preconceituosa e do potencial destrutivo representado pelo fundamentalismo do Hamas.

O que me incomoda, porém, é o entusiasmo quase orgasmático, do Primeiro Ministro israelense que reage a este terrível discurso, afirmando que:

 “Não viu reação de Abbas ao discurso do Hamas em Gaza.”

Aqui podemos ver um ponto de encontro entre Hamas e a extrema direita israelense. Aqui há não uma semelhança, não uma comparação, mas o uso mútuo, um interesse comum tanto do Hamas em relação a Israel, quanto  do atual  governo israelense em relação ao Hamas.

Na frase de Bibi há sinais digitais inconfundíveis de conservadorismo e de elementos autoritários não menos preocupantes. Isto pode se notar quando o primeiro ministro ao afirmar, vez por vez, que não há diferença entre o governo Palestino de Gaza e da Cisjordânia, exorta  sentimentos tribais e excludentes que acabam sendo criados por essa “profecia que se auto concretiza”.

Importante afirmar, porém, que não foi Bibi que criou esta dinâmica, o ex- primeiro ministro Sharon agiu de forma semelhante algumas vezes. Um dos exemplos pode ser visto no saída unilateral de Gaza, por exemplo . Aqui, depois de anos de negociações com a Autoridade Nacional Palestina, com todas as dificuldades, houve mudanças. Sharon se retira de Gaza, governada pelo Hamas, com quem nunca houve acordo algum (mas não são todos iguais?).

Afinal, se “Não há com quem falar”, se “não há parceiro do outro lado”, então “eles são todos iguais”.

Interessante é que discursos como esses do Hamas, criam sentimentos semelhantes de outra parte. Ao tratarem todos nós por “sionistas a serem assassinados” e “infiéis”, o fundamentalismo islâmico cria no seio da sociedade israelense também perspectivas tribais e particularistas, que dão poder a grupos conservadores, de direita, autoritários e particularistas da sociedade israelense.

Aqui há um diálogo sim entre Hamas e a extrema direita israelense, um diálogo de exclusão, de tribalização do Outro, de essencialização de grupos inteiros, que impossibilita qualquer avanço no sentido de um reconhecimento mútuo, convivência e futuro acordo.

O pior,  grupos pseudo “progressistas” acreditam e caem nesta charada. Ao essencializarem  discursos ,  estes grupos ( que se definem como de esquerda ) contribuem para o aumento do conflito, a tribalização de posições, o fortalecimento de visões preconceituosa e as possibilidades de Guerra. A aliança da esquerda com os Hamas é tão ridícula quanto ela seria se fosse com a direita israelense. Já tendo consequências trágicas.

Afinal, discursos políticos trágicos que criam decisões políticas que são tão trágicas quanto.

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