sábado, 8 de dezembro de 2012

29 de Novembro e os Símbolos de Israel - Michel Gherman



Depois de muito tentar e não conseguir, hoje vou escrever sobre a declaração unilateral do Estado Palestino por Abu Mazen, no dia 29 de novembro de 2012. Não conseguia escrever antes porque os níveis de frustração que sinto a respeito do o ocorrido, no último dia 29, são astronômicos. Importante dizer que esta frustração não vem pela atuação do lado palestino ( apesar do pífio, excludente e perigoso discurso de Mahmud Abas na Assembleia da ONU), a fonte de minha frustração é o lado israelense, melhor dizendo, a direita israelense, especificando ainda mais, este governo de extrema direita do qual somos todos (os cidadãos deste aís) reféns ultimamente.

O dia 29 de novembro (nacionalmente famoso pela expressão Kaf tet be nobember) sempre foi uma fonte, um recurso de legitimidade na memória simbólica do país. Em Kaf tet be november de 1947 foi votada na mesma assembleia das Nações Unidas o plano de Partilha da Palestina entre dois Estados, um judeu e um árabe. Com a presença de Chaim Herzog, representando o Movimento Sionista, as Nações Unidas aprovam a existência de dois estados na Palestina e viabilizam assim a criação do Estado de Israel.

Apesar de menor do que planejavam, apesar de ter uma virtual inviabilidade existêncial, por estar cortado pelo futuro Estado árabe, o Movimento Sionista (hegemonicamente representado então pelo trabalhista MAPAI) apoia a divisão. Enquanto isso, o Movimento Nacionalista Palestino e o mundo árabe, não. Sem entrar nos meandros desta decisão  política, que hoje conta com extensa bibliografia a respeito, a decisão então tomada pelo sionismo, ficou armazenada na memória coletiva judaica e israelense como uma fonte moral de legitimidade e uma grande  vitória para o Movimento Nacional Judaico.

Aceitar a partilha era mais do que aceitar a criação de um Estado Judeu, era aceitar a legitimidade da existência do Outro. Um outro Estado, ao lado do Estado de Israel era a incorporação da ideia de que esta terra continha múltiplas narrativas para múltiplos agentes históricos. Não só a criação do estado Judeu consiste a vitória do Sionismo, a determinação de que um estado árabe ao seu lado é legítimo, é parte da vitória do Movimento sionista. 29 de Novembro surge fortemente, em luzes de Neon piscando na narrativa sionista, na “Memória Nacional” dizendo: “Quem não nos aceitou, quem não reconhece nossa narrativa foi o Outro!!!”. Neste sentido, o Kaf tet be November tem, ou tinh,a uma importância Histórica inigualável para o sionismo e para Israel.

Digo tinha porque perdemos, perdemos o dia da partilha e perdemos a dimensão simbólica da narrativa de que a Solução de dois Estados é uma premissa do Sionismo.

Abu Mazen, ganhou para si o 29 de Novembro. Ele desfez, simbolicamente , a ideia de que “quem não os aceitou fomos nós”, invertendo a equação para:  “quem não nos aceita são eles.”

Este governo, ao agir como agiu nas últimas semanas na ONU, não somente desperdiça uma oportunidade histórica de receber reconhecimento, em fórum internacional, por parte dos Palestinos moderados, enfraquecendo o Hamas e caminhando para a solução de dois Estados, mas faz mais, este governo deslegitima toda a história do Movimento Nacional Judaico, deslegitima a narrativa do sionismo e aponta para a ideia de que o conflito é a única opção.

Pior: O governo Bibi- Liberman avança na estrada da deslegitimação internacional e afirma que construirá milhares de casas nos territórios em disputa (no caso a fronteira norte de Jerusalém oriental, próximo a Ramallah). E afirma que isto é uma forma de “punição”. Punição? Contra quem? Contra palestinos moderados que rifam a legitimidade interna e vão pra ONU com uma proposta de dois Estado, reconhecendo a partilha de 1947?

Não, na minha avaliação que está de fato sendo punido é Israel, a sociedade israelense e o Movimento Sionista , que gradualmente vai perdendo seus símbolos em nome de um outro projeto de governo autoritário, excludente, um “desvio genético” que adoece o Estado de Israel.

Bom saber que não estou sozinho nesta avaliação, e trago aqui 3 nomes cuja desconfiança de serem da “extrema esquerda” não existe. São nomes historicamente ligados ao centro politico do Sionismo. O primeiro deles é o ex- primeiro Ministro de israel (ex deputado pelos partidos Likud e pelo kadima) Ehud Olbert, que  classificou a oposição de Israel à criação do Estado Palestino na ONU de “erro histórico”.  

O segundo é o deputado Buji Herzog (sobrinho-neto do líder sionista que acompanhou a votação da ONU em 1947, Haim Herog), ao analisar a decisão do governos de Israel,  classifica a posição de Israel como:  “Uma Tragédia Política”.

Por fim, cito o titulo da matéria do famoso  jornalista Ary Sahvit (considerado um nome moderado de centro em Israel)  no Haaretz, ele afirma categoricamente  “ A direita põe em Rico Israel”.
Sem dúvida,  simbolicamente,  a direita no poder age de maneira que o sionismo seja atacado e transformado em uma perspectiva ultrapassada. A extrema  direita israelense é assim, hoje, anti –sionista e mais do que  ninguém ameaça Israel.

Bom agora sim, a frustração passou, virou depressão ...

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