Quem está usando
quem? Uma análise da escalada da violência entre Israel e o Hamas e suas
consequências
As avaliações a cerca do início
do conflito dizem que tudo começou com o ataque de Israel ao carro onde se
encontrava o líder militar do Hamas, Ahmed Jaberi, em gaza. Porém é preciso ir
um pouco mais longe para se entender a escalada de violência a as relações de
poder envolvidas nesse evento.
A Primavera Árabe vem enchendo o
Oriente Médio de dúvidas e incertezas há quase dois anos. Diversos países
mulçumanos vêm passando por mudanças políticas que, para além das relações
entre ocidente e oriente, transformam a histórica disputa entre mulçumanos
sunitas e xiitas, fator que levou a carnificinas em guerras como Iran-Iraque,
massacres dentro do Iraque, Síria, Líbano, entre outros.
Esse realinhamento ocorrido com a
primavera árabe, não podia deixar a palestina de lado. Os árabes residentes na
Palestina Ocupada e em Israel são de origem sunita, o que ajuda a explicar o
descaso histórico de povos xiitas pela sua causa.
Contudo, recentemente, na última
semana de outubro, Israel foi acusado de explodir, em um ataque aéreo ainda não
esclarecido, um depósito de armas no Sudão[1],
que supostamente forneceria armas para o Hamas e outros grupos fundamentalistas
da região.
Soma-se a isso, no mesmo período,
a visita à Gaza de uma das maiores personalidades do reacionarismo mulçumano,
um dos Sheiks do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani,, de origem Sunita, que
também reprimiu a população do seu país quando esta tentou sair às ruas e
entrar no movimento pela Primavera Árabe. A comitiva do Qatar que visitou Gaza
ainda contou com a presença do primeiro ministro do país do Golfo Pérsico.
Foram doados $400 milhões ao Hamas.
Desde a explosão da fábrica no
Sudão os foguetes começaram a ser lançados de Gaza colocando em risco mais de
um milhão de cidadãos israelenses que vivem a poucos quilômetros de Gaza.
Ironicamente, as primeiras vítimas fatais do evento (se há algo de irônico
nisso!) foram três trabalhadores tailandeses que moravam na região e sua casa
foi atingida por um míssil do Hamas.
O estopim foi a divulgação do um
vídeo feito pelo Hamas mostrando o momento em que um jipe do exército de Israel
era atingido pela artilharia de Gaza, deixando um soldado morto e outros três
feridos. No dia seguinte a isso, Israel assassina o líder militar do Hamas.
A partir daí já sabemos as
consequências. Mais de mil mísseis atirados contra Israel e repetidos ataques
aéreos israelenses visando destruir arsenais do Hamas. Vítimas, principalmente
civis, são contadas dos dois lados.
Mas a quem interessa o atual conflito?
Em menos de três meses
acontecerão eleições em Israel. O atual governo de extrema direita antecipou as
eleições achando que poderia conseguir maioria no parlamento, facilitando a
construção de uma coalisão onde os religiosos ficariam de fora ou exerceriam
uma influência quase nula. Com o passar de dias foi ficando claro que a vitória
da direita não seria tão ampla. Há um campo de centro esquerda que poderia
colocar em risco a dita maioria absoluta da direita.
Concomitantemente, o governo do
Fatah, que controla a Cisjordânia, tentará um upgrade do status
da Palestina na ONU. Seria considerada membro porém sem direito a voto. O
interessante disso é que esse upgrade permitiria que líderes israelenses fossem
processados internacionalmente por crimes de guerra contra outra nação,
deixando políticos e militares israelenses em uma situação bem desconfortável.
Isso seria uma enorme vitória para o Fatah de Abbas e uma enorme derrota para o
Hamas.
Assim, a escalada de violência em
Gaza era tudo que o Hamas e a extrema direita israelense queriam. Do lado
palestino, o Hamas, através de sua propaganda (que inclusive já divulgou em
Gaza que haviam acertado o Knesset o parlamento Israelense), volta a ser o
bastião da resistência palestina. Passam a responder frente ao governo de
Israel para um possível cessar-fogo. Já o Fatah, na Cisjordânia Ocupada, fica
imobilizado.
Do lado israelense o governo de
Bibi Netanyahu e Avigdor Liberman usa de sua estratégia mais nefasta para
garantir a vitória nas próximas eleições. Ouvir sirenes e correr para abrigos
não é algo agradável e a população vai apoiar a guerra.
Conclusão: Hamas, Netanyahu e
Liberman jogam do mesmo lado. Não querem paz. Não querem dois Estados. Não
prezam pela vida. Dizer não à guerra é dizer não ao Hamas, ao Likud e ao Israel
Beiteinu.
Deixo aqui minha solidariedade a
todo o povo Israelense e Palestino que vêm sofrendo há anos com a política de
seus governos que não garante segurança e sim guerra e destruição.
[1]
Importante ressaltar que o Sudão é um país de maioria sunita que vem
massacrando minorias não islamizadas ao sul do país na tentativa de promover um
governo islâmico da região. Ressalta-se que na tentativa de proteger a
população massacrada a ONU decidiu por criar uma região autônoma ao sul do
país, o Sudão do Sul.
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