terça-feira, 20 de novembro de 2012

Quem está usando quem? Uma análise da escalada da violência entre Israel e o Hamas e suas consequências - Por Marcos Gorinstein



Quem está usando quem? Uma análise da escalada da violência entre Israel e o Hamas e suas consequências

As avaliações a cerca do início do conflito dizem que tudo começou com o ataque de Israel ao carro onde se encontrava o líder militar do Hamas, Ahmed Jaberi, em gaza. Porém é preciso ir um pouco mais longe para se entender a escalada de violência a as relações de poder envolvidas nesse evento.

A Primavera Árabe vem enchendo o Oriente Médio de dúvidas e incertezas há quase dois anos. Diversos países mulçumanos vêm passando por mudanças políticas que, para além das relações entre ocidente e oriente, transformam a histórica disputa entre mulçumanos sunitas e xiitas, fator que levou a carnificinas em guerras como Iran-Iraque, massacres dentro do Iraque, Síria, Líbano, entre outros.

Esse realinhamento ocorrido com a primavera árabe, não podia deixar a palestina de lado. Os árabes residentes na Palestina Ocupada e em Israel são de origem sunita, o que ajuda a explicar o descaso histórico de povos xiitas pela sua causa.

Contudo, recentemente, na última semana de outubro, Israel foi acusado de explodir, em um ataque aéreo ainda não esclarecido, um depósito de armas no Sudão[1], que supostamente forneceria armas para o Hamas e outros grupos fundamentalistas da região.

Soma-se a isso, no mesmo período, a visita à Gaza de uma das maiores personalidades do reacionarismo mulçumano, um dos Sheiks do Qatar, Hamad bin Khalifa al-Thani,, de origem Sunita, que também reprimiu a população do seu país quando esta tentou sair às ruas e entrar no movimento pela Primavera Árabe. A comitiva do Qatar que visitou Gaza ainda contou com a presença do primeiro ministro do país do Golfo Pérsico. Foram doados $400 milhões ao Hamas.

Desde a explosão da fábrica no Sudão os foguetes começaram a ser lançados de Gaza colocando em risco mais de um milhão de cidadãos israelenses que vivem a poucos quilômetros de Gaza. Ironicamente, as primeiras vítimas fatais do evento (se há algo de irônico nisso!) foram três trabalhadores tailandeses que moravam na região e sua casa foi atingida por um míssil do Hamas.

O estopim foi a divulgação do um vídeo feito pelo Hamas mostrando o momento em que um jipe do exército de Israel era atingido pela artilharia de Gaza, deixando um soldado morto e outros três feridos. No dia seguinte a isso, Israel assassina o líder militar do Hamas.

A partir daí já sabemos as consequências. Mais de mil mísseis atirados contra Israel e repetidos ataques aéreos israelenses visando destruir arsenais do Hamas. Vítimas, principalmente civis, são contadas dos dois lados.

Mas a quem interessa o atual conflito?

Em menos de três meses acontecerão eleições em Israel. O atual governo de extrema direita antecipou as eleições achando que poderia conseguir maioria no parlamento, facilitando a construção de uma coalisão onde os religiosos ficariam de fora ou exerceriam uma influência quase nula. Com o passar de dias foi ficando claro que a vitória da direita não seria tão ampla. Há um campo de centro esquerda que poderia colocar em risco a dita maioria absoluta da direita.

Concomitantemente, o governo do Fatah, que controla a Cisjordânia, tentará um upgrade do status da Palestina na ONU. Seria considerada membro porém sem direito a voto. O interessante disso é que esse upgrade permitiria que líderes israelenses fossem processados internacionalmente por crimes de guerra contra outra nação, deixando políticos e militares israelenses em uma situação bem desconfortável. Isso seria uma enorme vitória para o Fatah de Abbas e uma enorme derrota para o Hamas.

Assim, a escalada de violência em Gaza era tudo que o Hamas e a extrema direita israelense queriam. Do lado palestino, o Hamas, através de sua propaganda (que inclusive já divulgou em Gaza que haviam acertado o Knesset o parlamento Israelense), volta a ser o bastião da resistência palestina. Passam a responder frente ao governo de Israel para um possível cessar-fogo. Já o Fatah, na Cisjordânia Ocupada, fica imobilizado.

Do lado israelense o governo de Bibi Netanyahu e Avigdor Liberman usa de sua estratégia mais nefasta para garantir a vitória nas próximas eleições. Ouvir sirenes e correr para abrigos não é algo agradável e a população vai apoiar a guerra.

Conclusão: Hamas, Netanyahu e Liberman jogam do mesmo lado. Não querem paz. Não querem dois Estados. Não prezam pela vida. Dizer não à guerra é dizer não ao Hamas, ao Likud e ao Israel Beiteinu.

Deixo aqui minha solidariedade a todo o povo Israelense e Palestino que vêm sofrendo há anos com a política de seus governos que não garante segurança e sim guerra e destruição.


[1] Importante ressaltar que o Sudão é um país de maioria sunita que vem massacrando minorias não islamizadas ao sul do país na tentativa de promover um governo islâmico da região. Ressalta-se que na tentativa de proteger a população massacrada a ONU decidiu por criar uma região autônoma ao sul do país, o Sudão do Sul.

Nenhum comentário:

Postar um comentário