terça-feira, 20 de novembro de 2012

Todos se acusam e se agridem. Ninguém fala em paz - Marcos Gorinstein



Depois de sete dias de conflito entre Israel e o Hamas, mais de 1000 mísseis atirados contra Israel (inclusive alguns vindo de solo Egípcio), mais de 1000 bombas atiradas em território palestino e tristes e rasas declarações de apoio de ambos os lados (o facebook está uma tristeza!!!), resolvi escrever algo.

Nessa última semana as respostas não poderiam ser piores. Os apoiadores da missão militar Israelense, geralmente de direita, publicam fotos, vídeos e comentários que vão de mal a pior. Defendem uma ampliação da operação em Gaza, o que vai gerar um maior número de mortos do lado palestino.

Os que defendem os palestinos, geralmente de esquerda, publicam, também, fotos vídeos e comentários comparando o Estado de Israel à Alemanha nazista, acusando-o de promover um massacre na região costal palestina.

Sabe o que mais me chama a atenção? Nenhum dos lados fala em PAZ. Na última sexta feira eu estava em casa quando a sirene tocou em Jerusalém. Não precisei correr muito, entrei no meu quarto (que é o bunker da casa), fechei a porta e a janela e esperei a bomba cair. Pra minha sorte e para a sorte de outros 500 mil judeus e 300 mil árabes a bomba caiu em um terreno aberto fora de Jerusalém.

No sábado eu fui a uma manifestação em Beit Jala, vilarejo árabe na Cisjordânia Ocupada perto de onde a bomba caiu. A manifestação que contou com cerca de 200 participantes foi organizada pelo movimento Combatentes Pela Paz, onde militantes palestinos e israelenses, com suas bandeiras nas mãos (e não armas e bombas), pediam o imediato fim das agressões de ambos os lados, a volta imediata à mesa de negociações e a construção do Estado Palestino nas fronteiras de 1967. Me chamou a atenção a enorme quantidade de jovens palestinos que participaram do protesto. Jovens que não serão sugados por movimentos terroristas islâmicos.

Assim, companheiros da esquerda, eu gostaria de dizer que a repetição rasa e vazia de slogans e bandeiras que já não são relevantes para a realidade atual do conflito, bem como o apoio incondicional ao fundamentalismo islâmico que ameaça o povo palestino, deixam a esquerda pacifista israelense mais isolada ainda.

Internamente somos isolados por uma política que ameaça a democracia e externamente somos isolados por vocês. O Estado de Israel é tão importante quanto o Estado Palestino. O valor da vida de israelenses judeus e não judeus é tão importante quanto o valor da vida de palestinos.

O desequilíbrio do discurso da esquerda beira o racismo. É fundamental que a esquerda refaça a discussão sobre o conflito palestino-israelense, sem preconceitos, sob o risco de se tornar refém de uma análise fundamentalista islâmica típica de movimentos como o Hamas.

A crítica ao Estado de Israel deve acontecer, ao governo atual é imperativo moral que critiquemos juntos, porém se recusar a criticar o Hamas é escolher o lado errado.

Vou continuar por aqui, dentro ou fora do bunker, acreditando ser possível um diálogo franco com a esquerda e com os palestinos. Lutando pela paz, pelos Estados de Israel e Palestina laicos e democráticos, vivendo lado a lado.

Chega de análises vazias e reproduções automáticas. Lutemos pela paz, por um mundo melhor.

2 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, a discussão é válida e seus argumentos, super pertinentes. Mas me chamou a atenção vc distinguir judeus de árabes, em vez de israelenses, palestinos ou outras definições possíveis. Essas definições são super complexas e revelam bastante da confusão que rodeia parte da questão. O que é ser judeu? Apenas quem segue uma determinada religião? E ser palestino significa necessariamente ser árabe - e vice-versa? E sempre é bom lembrar que há árabes muçulmanos/islâmicos, católicos e sabe-se lá se de outras religiões. Para minha cultura e criação (brasileira, ateia) acho bastante impressionante que um grupo religioso possa ter reivindicado e conquistado a criação de um país e uma nação destinados aos fiéis dessa religião - falo dos judeus e de Israel. Mas não digo isso em tom de crítica, só acho muito difícil de entender essa disputa, que tem raízes religiosas e se alimenta delas, mesmo não se restringindo a isso. Me parece que, infelizmente, a religião é só a forma de manipular pessoas numa guerra cuja reais razões estão camufladas. Enfim, boa sorte por aí. :)

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  2. Uma correção, depois de reler: claro que existem israelenses judeus e não judeus, mas eu queria entender a diferença conceitual entre judeus e árabes, porque ser árabe significa ser muita coisa. Como falei, existem árabes muçulmanos, católicos e inclusive judeus - de acordo com a denifição do termo "árabe" na Wikipedia. Eu não acho que judeu se oponha necessariamente a árabe. Mas sei que isso já é uma discussão quase que teórica. rsrs

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