quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Bibi e o Ovo da Serpente - Michel Gherman



O canal 1 é o canal público  de Israel. Ele  é (ou ainda é), a despeito de sua estética dos anos 70, o canal com mais profundidade em suas análises políticas. A ausência de propagandas e sua consequente independência permitem ao canal 1 mais tempo para entrevistas e perspectivas mais sofisticadas em seus programas. O canal 1 tem analistas com opiniões diversas e oferece mais possibilidades de opiniões políticas para o telespectador em Israel, apesar de sua estética retrô e seus constantes problemas técnicos (além de volta e meia o telefone do apresentador tocar no ar).

Pois foi justamente do canal 1 que vi a mais surpreendente e esclarecedora entrevista sobre as eleições internas doPartido Likud.

Ronie Bar On, do Kadima,  era entrevistado pela famosa jornalista Geula Even. Bar On é o típico político oportunista. Membro do Likud por anos, protagonista de alguns escândalos de nepotismo, ele saiu  do Partido e se ligou ao Kadima de Sharon, quando isso lhe pareceu confortável em termos eleitoreiros. Nesta entrevista Bar On resumiu com clareza impressionante os riscos do Likud em sua versão 2012 para o Estado e para a sociedade  Israelense, em suas  relações internas e externas.

As eleições internas do Likud são diretas, os militantes votam em listas construídas de acordo com suas preferencias. Na entrevista Bar On falava sobre as eleições internas do Partido no poder, ele afirmou:

-Há possibilidade de que candidatos de centro no Likud, fiquem de fora da lista final. Tenho medo que Dan Meridor e Beni Begin fiquem  muito mal colocados, ou mesmo  de fora...

Neste momento ele foi interrompido por Geula:

- Mas digamos que Beni Begin não pode  ser considerado exatamente um político da esquerda, certo?

Ao que Bar On respondeu:

- Pois bem, estamos falando de outros candidatos que são um risco à independência do poder judiciário, à igualdade entre cidadãos árabes e judeus, à democracia... neste caso até Beni Begin está à esquerda.

Pois bem,  este foi o quadro final. Michael Feiglin, colono da Cisjordânia, típico militante da extrema direita neo sionista[1] está entre os 15 primeiro colocados. Begin, não.

Feiglin é o símbolo do Likud hoje. Nos últimos anos ele tem inchado o partido com  eleitores da extrema direita. Após anos de tentativa, com a aproximação entre o Likud e o Israel Beiteinu (do Liberman), a extrema  direita ganha espaço e hegemoniza o partido. Bibi se esforça para manter o poder, se aproxima da extrema direita e o Likud se transfora em um partido de extrema direita, com candidatos que não tem interesse algum em manter a independência do judiciário e  pretendem desconstruir a democracia em Israel. Até Bar On percebeu.

Bibi chocou o ovo da serpente, há um processo de fascistização que ao final vai derrotá-lo no próprio partido... vamos todos ser picados pela serpente da extrema direita, até ele.


[1] Uri Ram, The Future of the Past in Israel - A Sociology of Knowledge Approach, in Benny Morris, Making Israel, the University of Michigan Press, 2007.

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